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31 julho 2011

Agosto


Domingo frio, quase agosto,
Os sinos anunciam a hora da missa,
Embalando as nuvens carregadas,
Que andam vagarosas no céu.

No ar sombrio da tarde
O toque do sino é melodia,
Enquanto a chuva fina
É uma pálida cortina.

Chega o agosto, cheio de frio,
Na rua silente, sem caminhantes,
A voz do sino é um soluço,
Misturado ao silêncio da tarde.

Bradam os ventos contra as pedras,
Revoltam-se as ondas do mar,
O olhar afunda-se para além da janela,
Numa complacente espera sem sentido.
Estaria o sino chorando,
Ou fazendo uma prece?

Sônia Schmorantz



Imagens de inverno no sul da ilha - Pantano

26 julho 2011

Ramo em Flor


Para cá e para lá
sempre se inclina ao vento o ramo em flor,
para cima e para baixo
sempre meu coração vai feito uma criança
entre claros e nebulosos dias,
entre ambições e renúncias.
Até que as flores se espalham
e o ramo se enche de frutos,
até que o coração farto de infância
alcança a paz
e confessa: de muito agrado e não perdida
foi a inquieta jogada da vida.

Hermann Hesse
(de “Música da Solidão”, 1915)

Imagem 1: Flores da casa da amiga Osmarina
Cachoeiras de Goiás por Daniela Ortega
Dunas na Praia dos Ingleses

24 julho 2011

Estranho Poema


Quis escrever o poema mais estranho
O mais realista e mais triste
Durante esta longa madrugada
Mas a caneta caiu-me da mão.

Quis escrever um nome
Soletrar todas as suas letras
Senti enorme vontade de o fazer
Mas a caneta caiu-me da mão.

Quis escrever sobre isolamento
Sobre despatriados, deslocados
Que não estão, nem aqui nem ali
Mas a caneta caiu-me da mão.

Quis escrever sobre mim
Emoções, razões, negações
Pensamentos, interrogações, pesar
Mas a caneta caiu-me da mão.

Quis escrever sobre a verdade
Aquela que se diz olhos nos olhos
E que é tão rara nos dias de hoje
Mas a caneta caiu-me da mão.

Quis, enfim, escrever qualquer coisa
Que o meu raciocínio não concebeu
Não encontrou uma forma de o fazer
E dei com a caneta caída no chão.

Estela Belém
Julho 2007


Imagens Praia dos Ingleses, Florianópolis

22 julho 2011

Outro serei amanhã


Outro serei amanhã

Quando o silêncio pousar
Na rosa branca dos ventos
Rosa de espuma e luar.
Outro serei, quando as aves
Voltarem da tempestade,
Trazendo a luzir na treva
Sementes de eternidade.
Outro serei, quando a noite,
Como nunca, de mansinho,
Vier espreitar-me os passos,
Junto à incerteza e ao caminho.
Outro serei amanhã
E entre dois esquecimentos
Levarei meu sorriso
E a rosa dos ventos.



Paulo Bonfim


Imagens da Praia dos Ingleses

17 julho 2011

Assassinato de um Poema


Um poema foi encontrado
morto
jogado numa poça de fonemas,
ratos roíam as vogais.
Não havia identificação,
não havia título,
ninguém sabe o autor.
Suspeita-se que não fora
acidental
mas que cada ferimento
tenha sido provocado
pelas mãos 
do frio, 
do mortal... 
Esquecimento.

Jorge Henrique da Silva Romero


Imagens feitas na Lagoinha Norte

15 julho 2011

Sulcos da sede


É apenas o começo.
Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão.
Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo.
Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo.
Antes do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.

Eugénio de Andrade


Imagens: anoitecer na Lagoa da Conceição

12 julho 2011

A luz mansa que emprestei de Quintana



                        A luz mansa que emprestei de Quintana
 veio hoje me visitar
Tão calma, com mãos boas
Um afago
Um carinhar
E veio assim, essa luz mansa sobre mim
Como se eu fosse janela
Quarto
Sala
Varanda
Como se eu fosse Casa
A luz mansa vem de manhã
Quando tudo começa de novo
Quando os carros saem das garagens
Os comerciantes abrem as portas de ferro
Os pássaros estão escondidos, cantando
Então ela vem
E me ensina como é bom ser simples
Como sou simples de fato
Como só quero Amanhecer devagar...

Mô  Amorin
http://estripitizese.blogspot.com/



Imagens da Barra da Lagoa - Florianópolis SC

07 julho 2011

Marés de Inverno


O  inverno trouxe de volta
o pouso de brancas gaivotas.
Voando reunidas,
como bando de náufragos,
recurvam-se ao sol na rota entre céu e mar,
pairando com graça sobre a vida.
Asas inquietas como sonhos ao vento,
são vertentes de poesia
num impulso sobre o mar.
Infinito poema de amor,
palavras/asas seduzidas pelo vento,
unidas no vagar da vida,
como um grito de gaivota...

Sônia Schmorantz


Gaivotas na Praia dos Ingleses

05 julho 2011

Noturno


Devagar, devagar... A noite dorme
e é preciso acordar sem sobressalto.
Sob um manto de sombra, denso, informe,
o mar adormeceu a sonhar alto.

Devagar, devagar... O rio dorme 
sobre um leito de areias e basalto...
Malhada pela neve a serra enorme
parece um tigre a preparar o salto.

E dorme o vale em flor. Dormem as casas.
Nenhum rumor. Nenhum frêmito de asas.
Nada perturba a noite bela e calma.

E dormem os rosais, dormem os cravos...
Dormem abelhas sobre o mel dos favos
e dorme, na minha alma, a tua alma.

Fernanda de Castro

Imagens Praia dos Ingleses

01 julho 2011

Tempo


O tempo se dobrou como a folha do dicionário.
E foi deixando marcas indeléveis.

À primeira dobra não dei importância.
Acreditei que um passar de dedos poderia alisá-la,
o próprio peso do papel iria corrigir o amassado.

Um dia os sonhos foram perdendo altura
e soube que essas marcas nunca sumiriam.

Página virada, a ruga hoje,
faz parte do sorriso.

Augusto Sérgio Bastos


Imagens à toa, tiradas no pátio de casa, já que a chuva e o frio não deixam sair...

Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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