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31 março 2011

Inspiração


Foi uma inspiração, mas eu não anotei 
Se foi como uma fumaça que se esvai. 
Em um momento estava na minha mente, 
No outro nem mesmo eu sei.

Era algo importante e bonito, 
Por mais que eu tente não consigo lembrar. 
E ficou na mente um vazio, 
Só para me avisar 
Que ela esteve aqui e eu não anotei.

Dailza Ribeiro da Cruz Leite
04/04/2000




28 março 2011

Comunicado



Só por hoje

vou rasgar os códigos.
Desacato as regras,
os preços módicos.
Só por hoje
desacredito das retas,
descarrilho do trilho,
desvio das setas.
Preciso de tempo para sonhar,
respirar fundo e carregar na mão
o sal da vida e o mel do mundo.
Se o compromisso tocar a campainha,
peço que aguarde na casa vizinha,
mansamente, sem fazer alarde.
Mas comunico a todos pela imprensa
que sumiu a lucidez.
Pediu licença.
É só por hoje,
mas agora é minha vez.


Flora Figueiredo
* São Paulo, SP. – 1951 
Praia da Joaquina
Praia dos Ingleses

26 março 2011

No centro do mar



Lá no centro do mar, lá nos confins
onde nascem os ventos, onde o sol
sobre as águas douradas se demora;
Lá no espaço das fontes e verduras,
dos brandos animais, da terra virgem,
onde cantam as aves naturais:
Meu amor, minha ilha descoberta,
é de longe, da vida naufragada,
que descanso nas praias do teu ventre,
enquanto lentamente as mãos do vento,
ao passar sobre o peito e as colinas,
erguem ondas de fogo em movimento.


José Saramago 


Praia da Sepultura, Bombinhas

24 março 2011

Eu amo


Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

(Fernando Pessoa) 

Praia Jurerê
Praia do Sambaqui

23 março 2011

A luz que acende o olhar


A luz que acende o olhar
vem das estrelas no meu coração,
vem de uma força que me fez assim,
vem das palavras lembranças e flores
regadas em mim.

O tempo pode mudar
a chuva lava o que já passou,
resta somente o que eu já vivi,
resta somente o que ainda sou.

A luz que acende o olhar
vem pelos cantos da imaginação,
vem por caminhos que eu nunca passei,
como se a vida soubesse de sonhos
que eu nunca sonhei.

Vem do infinito da estrela cadente
do espelho da alma dos filhos da gente,
de algum lugar só para iluminar,
a força vem de onde eu venho,
de tudo o que acende a vida calada,
me olha, me entende o que eu sou
tudo o que maior vem do amor.

Vem da luz que acende o olhar,
vem das histórias que me adormeciam,
vem do que a gente não consegue ver,
vem e me acalma, me traz e me leva
para mais perto de você.


(Extraído da música A luz que acende o olhar - letra e música Deborah Blando)


Imagens da Praia  Sambaqui

21 março 2011

Provavelmente


Provavelmente, o campo demarcado
Não basta ao coração nem o exalta;
Provavelmente, o traço da fronteira
Contra nós, amputados, o riscamos.
Que rosto se promete e se desenha?
Que viagem prometida nos espera?
São asas( que só duas fazem vôo).
Ou solitário arder de labareda?

José Saramago

Praia do Araçá em Porto Belo, SC

Praia da Sepultura em Bombinhas, SC
Praia da Sepultura, Bombinhas, SC

16 março 2011

Quietude


Que poema de paz agora me apetece!
Sereno,
Transparente,
A sugerir somente
Um rio já cansado de correr,
Um doce entardecer,
Um fim de sementeira.
Versos como cordeiros a pastar,
Sem o meu nome embaixo, a recordar
Os outros que cantei a vida inteira.

Miguel Torga 
in Antologia Poética 

Praia da Armação
Praia Mole

12 março 2011

Procura-se


A aurora desperta pelo azul do mar,
A quietude outonal que rasga o dia,
a vida que ressurge rara após noite escura.
Procura-se
a esperança que saiu voando sem rumo,
uma alma alada como pássaro,
que desapareceu entre o céu e o mar.
Procura-se
sonhos pássaros perdidos na névoa tardia,
ventos leves, leves como o pensamento.
Procura-se
uma chance, uma sorte, uma nova saída,
uma ilha, um pouco de paisagem,
um verso capaz de descrever o instante.


Sônia Schmorantz

Trapiche em Gov. Celso Ramos
Lagoa da Conceição

11 março 2011

Outono


Talvez nunca a ternura fosse tanta
Como entre os montes amadurecidos
E quando as casas se elevam
Entre o ouro e o fumo da tarde.
Silêncio que parece vir do lento
Passado,
Vozes que se dão em resignada melancolia
E tomam a forma dos frutos
Vinho e sombra que apagam o mar
Nas árvores
Onde não tardará o abandono
Memória do que somos.
Repousam sobre a noite os grous
Enquanto as cidades crescem à nossa volta
Contra o sul vencido.
Vento, ramo e sombra que caem
Sobre as janelas ardentes:
Lá onde a púrpura se reclina
Sobre a água e a beleza
A verdade começa a surgir da espuma.


Henrique Dória



Imagem 1: Barra da Lagoa
Imagens 2 e 3: beira mar norte Florianópolis

07 março 2011

Mulher


A que ri e chora sempre,
a que chora morre em todo entardecer,
quando a vida entardece.
Tem duas almas: uma que esquece,
outra que foge sempre das igrejas
mas entre anjos permanece.

A mulher tem duas faces,
a que se mostra, a que se esconde:
na que se mostra ela se cala,
depois se guarda escondida
no retrato de uma sala.

Tem duas almas:
uma que fere, outra que é ferida,
a que se corta não se vê na que se fere,
a preferida.

A mulher tem duas primaveras:
a que nasce sempre nas árvores
e a que lembra esquecimentos,
a que silencia o ser ausente,
a que floresce pressentimentos.

Tem duas vidas:
a que vive e adormece
e a que, adormecida,
na sua alma a vida tece.

Álvaro Alves de Faria



05 março 2011

O NAVIO DE VIDRO


O dia de partir
é aquele de sustentar
auroras na proa
e soltar âncoras
nas ilhas do céu.
Nessa hora
haverá ventos limpos
num cais parado
barcos amanhecidos
de conveses molhados.
Absurdo será o mar
submersa será a vida.
Nesse dia
surgirá uma pressa ferida
como uma loucura desamparada
as malas terão o sopro da brisa
o caminho a força das águas.

Nessa noite
nascerá uma lua assustada
com estrelas em desalinho
no brilho delas
aviaremos rudes máscaras de linho
Para esse tempo
farei com cristais de insônia
um navio de vidro
que singrará até o fim
todas as correntezas
que navegam em mim.


Élcio Vargas


Praia dos Ingleses

03 março 2011

Restos


Há um resto de noite pela rua
Que se dissolve em bruma e madrugada.

Há um resto de tédio inevitável
Que se evola na tênue antemanhã.

Há um resto de sonho em cada passo
Que antes de ser se foi, já não existe.

Há um resto de ontem nas calçadas
Que foi dia de festa e fantasia.

Há um resto de mim em toda parte
Que nunca pude ser inteiramente.

Ildásio Tavares


Praia de Coqueiros

Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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