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30 novembro 2009

Noturno



Devagar, devagar... A noite dorme
e é preciso acordar sem sobressalto.
Sob um manto de sombra, denso, informe,
o mar adormeceu a sonhar alto.

Devagar, devagar... O rio dorme
sobre um leito de areias e basalto...
Malhada pela neve a serra enorme
parece um tigre a preparar o salto.

E dorme o vale em flor. Dormem as casas.
Nenhum rumor. Nenhum frêmito de asas.
Nada perturba a noite bela e calma.

E dormem os rosais, dormem os cravos...
Dormem abelhas sobre o mel dos favos
e dorme, na minha alma, a tua alma.

Fernanda de Castro




29 novembro 2009

Eugénio de Andrade



Ouço correr a noite pelos sulcos
do rosto dir-se-ia que me chama,
que subitamente me acaricia,
a mim, que nem sequer sei ainda
como juntar as sílabas do silêncio
e sobre elas adormecer.

Eugénio de Andrade



Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser.

Eugénio de Andrade


As imagens deste domingo são da Praia da Tainha, litoral catarinense por Tom Schmorantz.

28 novembro 2009

Soneto Para Dizer Nada



Somente o verso acalma o meu poeta
e acende a passarada das manhãs.
Voar fica mais leve se a caneta
sabe a saudade e o gosto das maçãs.

O amor foi um presente e me completa,
mesmo perdido e longe das canções...
A vida sem paixão é paz deserta,
sem lágrimas, perfumes e emoções.

Feliz, busco a palavra que não disse,
e digo nada... E nada é muito mais
do que todas as letras que cumprisse,
para enfeitar meus cantos madrigais.
Tenho a emoção do verso e essa doidice
de ver uns colibris nos meus umbrais.

Nathan de Castro
Publicado por http://ignezpoesias.blogspot.com



27 novembro 2009

Carta pluma



A uma carta pluma
só se responde
com alguma resposta nenhuma
algo assim como se a onda
não acabasse em espuma
assim algo como se amar
fosse mais do que a bruma
uma coisa assim complexa
como se um dia de chuva
fosse uma sombrinha aberta
como se, ai, como se,
de quantos se
se faz essa história
que se chama eu e você

Paulo Leminski



26 novembro 2009

Quietação



É uma quietação que nasce da tarde,
Com as imagens que arrumo na prateleira do outono,
de onde as irei tirar nessa primavera que faz parte
do teu sonho.
De novo, estabeleço uma relação
entre o rosto que se afasta do mundo e
o azul de um céu antigo, que serve
para guardar a linha do horizonte nas manhãs
em que a névoa a esconde.
Ambos me afastam
da penumbra do poema, e quando derramo
esse azul sobre o teu rosto é como se a tinta
do céu te restituísse a cor da vida,
e o riso que ilumina a noite.
Regresso então ao princípio,
que és tu, para roubar à tarde a sua quietação,
e desenhar com ela o teu perfil sobre o sonho
em que a primavera floresce.

Nuno Júdice



25 novembro 2009

HOJE



Hoje sou este azul,
sou entardecer, silêncio e magia,
sou do mar a imensidão,
sou da brisa a serenidade,
sou perfume, sou pecado,
sou vida e paixão,
sou luz de luar beijando o mar...



Hoje sou esta natureza,
sou vento que desenha nuvens,
sou a noite e seus pássaros,
voando nas asas do vento...
Sou mulher cheirando a flor,
alguém a quem chamam de poeta,
mas sei que poetisa não sou,
sou mulher desta natureza,
meus versos são apenas sentimentos
que dançam nas ondas do mar...

Sônia Schmorantz


Praia dos Ingleses - 2009

24 novembro 2009

Vôo



Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores,
as palavras voam
Bando azul de andorinhas,
bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos
como negros abutres,
as palavras voam.
Oh! alto e baixo em círculos e
retas acima de nós, em redor de nós as
palavras voam.
E às vezes pousam.


Cecília Meireles


Fonte de água doce em plena praia, trapiche dos Ingleses


O abundante verde das plantas que nascem até nas imensas pedras.

23 novembro 2009

Suave!



Suave é o vento que te sopra,
A seda que te cobre,
O riso que te aflora,
O olhar que em ti brilha,
E o desejo que me toma!
Suave é a noite que desponta,
A lua que já nasce,
O beija flor que se deita,
O riacho já em prata,
O silencio na mata!
Suave é tua fala que me cala,
Teu olhar que me procura,
Teu braço que me toma,
Tua boca que me beija,
Meu olhar que te deseja!


Santaroza
Publicado no Recanto das Letras em 17/04/2008
Código do texto: T950407



22 novembro 2009

Paz do Meu Amor / Menino Passarinho



Você é isso
Uma beleza imensa
Toda recompensa de um amor sem fim
Você é isso
Uma nuvem calma
no céu de minha alma
e ternura em mim
você é isso
estrela matutina
luz que descortina um mundo encantador
você é isso
barco de ternura
lagrima que é pura
Paz do meu Amor

Quando estou nos braços teus
Sinto o mundo bocejar
Quando estas nos braços meus
sinto a vida descansar
no calor dos seus carinhos
Sou um Menino Passarinho
Com vontade de voar...

Jessé
Letra de Luiz Vieira




As imagens de hoje são da Praia dos Ingleses, linda neste domingo!

21 novembro 2009

Pássaros fujões



Aos domingos, escancaro todas as janelas da casa e da alma.
Pássaros fujões podem voltar em busca de ninho.
Quem sabe uma palavra, frase,
ponto final de um poema, um conto,
uma canção, uma crônica.
Sim, manter perenemente as janelas abertas,
porque os poetas sabem que
os passarinhos fujões quase sempre
voltam ao local do crime,
pombos-correio do inesperado...

Airton Monte



O vento sopra minha alma,
Varre-a como se estivera deserta,
Talvez por crer que meu silencio seja derrota,
Talvez por achar que calado sou mudo,
Que não se enganem os tolos, como o vento,
Meu silencio não é ausência, qual os cemitérios,
Nem é tão pouco o eco das catedrais,
Silêncio faço para me revestir de paz,
Em silêncio me encontro com ouvidos no coração,
Por isso não se enganem os tolos, como faz o vento,
Minha alma é vulcão!

Santaroza



Imagens de hoje, entre um intervalo e outro da chuva!

20 novembro 2009

Deixa-te estar na minha vida



Deixa-te estar na minha vida
Como um navio sobre o mar.
Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas,
Deixa-te estar na minha vida.
Se erguem as ondas mãos de espuma
Aos céus, em cólera incontida,
E o ar se tolda e cresce a bruma,
Deixa-te estar na minha vida.
À praia, um dia, erma e esquecida,
Hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida.
Como um navio sobre o mar.

Cabral do Nascimento



19 novembro 2009

Pássaro Triste



Ouço-te gorjear dentro de mim
Num cântico tristemente moribundo
Diz-me…
Porque não procuras a luz do sol
Que trespassa as folhas em silêncio?

Vá… lá… meu doido, reage à tristeza
Não deixes que a chuva, molhe os teus olhos
Muitas vezes é na solidão que se encontra
A solidez e a vontade, que nos roubaram!

Vá lá… pássaro triste…
Não te alimentes apenas de duvidas
Quem sabe?
Talvez o vento traga de novo sementes
Que foram arrastadas pela fúria da chuva
Vá lá… seu fraco…
Há sempre um novo dia que renasce…
Procura desbravar o longínquo horizonte
Não deixes que os abutres,te massacrem e assustem
Não deixes que os rios corram nos teus olhos!
Diz-me…
Porque não procuras a beleza do luar?
Vai… vá lá…
Voa incansavelmente até junto do mar
Transforma-te em águia no seu voo incessante
Faz das rochas da praia o teu eterno altar
E mesmo que estejas ferido,
voa… em pensamento!

Vóny Ferreira



18 novembro 2009

Canções do Vento Sul



Deitada sobre um tronco de carvalho
Ouvindo as canções do vento sul
Vejo a noite perfumada de orvalho
Abrindo o fim da tarde tão azul

Sigo passo pelo nada sem saber
Que todos os meus rumos são você
São estrelas os meus rumores de paixão
Pelos quatro cantos do meu coração

Hoje você vai sentir que o mundo é de nós dois
Não querer deixar sequer um beijo pra depois
E todos os mistérios vão surgir num céu azul
Discretamente escritos nas canções do vento sul

Nas canções do vento sul...

Paula Fernandes



17 novembro 2009

Conceição Bentes e sua Poesia



Teço a vida
nas cores vibrantes da emoção,
nos encontros e desencontros
retratando  paisagens da alma

Revelo enseadas, recantos
abismos, passagens
onde recrio a magia,
tempestades, calmarias
em tecidos sedosos
inteirando natureza – coração

Conceição Bentes
(30/09/08)



Quando tudo escureceu, e os ventos fortes
sopraram,
quando a chuva despencou e os pingos
grossos rolaram,
quando eu acendi a vela e vi a paz iluminada,
compreendi que nada seria igual
depois de ti,
pois enfeitaste a vida
como uma alvorada,
como um raio de sol numa manhã sem nuvens,
anunciando a alegria tão sonhada.

Conceição Bentes
(25/01/08)


As imagens de hoje são da Lagoa, tiradas de dentro do ônibus, no meu trajeto para o trabalho.

16 novembro 2009

Há uma companhia que não aceito



Há uma companhia que não aceito:
a dos pássaros engaiolados.
Gosto do rumor que fazem nos galhos
ao entardecer,
dos seus cantos isolados que nunca poderemos saber
se serão reproduzidos
ou se partirão para sempre,
com o vôo ignorado.
Gosto dos pássaros, eles são como as águas para a terra
semeiam cantos e mistérios
fecumdam o céu de música.
Mas quero vê-los livres,
como as nuvens nômades
como as correntes encachoeiradas.
Nas gaiolas seus cantos são lamentos aos meus ouvidos
e eu me sinto como um carcereiro num momento lúcido,
sem alegria.

(J.G.Araújo Jorge)





Imagens da beira mar norte de Florianópolis, nesta segunda feira.

15 novembro 2009

Minha Alma



Minha alma sobrevoa os mares
Entre brumas e cerração
Sinto palpitar o coração
Busco harmonia em todos os lugares
Um sentimento puro
Vai se formando pelos ares...


Minha alma silenciosa
Ocupa o espaço
O vento me dá um abraço...
Contemplo a perfeição dos mortais
Em ambientes siderais
- Oh! alma grandiosa -
Maior que o meu eu,
Maior que os meus ais!...


Minha alma mutante 
Voa alada como os pássaros
Entre céu e mar
Sente um desejo ardente de amar...
Subo alto, levada pelo vento
Uma estrela brilha no firmamento
Pergunto quem sou 
De onde vim
Para onde vou
Sei quem sou neste momento
Respiro fundo
Sou sim
Sou Ser no mundo
E isto é tudo!

Emília Possídio



As imagens de hoje são de Itapema e Florianópolis, atravessando o mar para o continente, e esta foto que tirei da rodoviária, antes de embarcar para Itapema, onde floripa começa a se preparar para o Natal:

14 novembro 2009

CASA-ALMA



Minha casa-alma me habita
e me percorre no mistério
dessas colinas.
Quando a noite chega,
recolhe-me...
e assim sou recolhida
pelo sudário da neblina.
Na escuridão dessa viagem,
só os ôcos silêncios
fazem a liturgia,
enquanto meus pés
descalços sentem o torpor,
das folhas salpicadas
que se escrevem.
Mas, quando venta
empoeiram-se os manuscritos
e lavam-se sob o orvalho.
Nesta casa-alma de prenhez
e tormentos sem atalhos,
os pássaros fazem aconchego
entre os esconderijos
das ramagens.
Minha casa-alma a noite
é assim este estranho ninho,
coagulante de suores,
de verdes dores, selvagens!

Lilian Reinhardt

www.lilianreinhardt.prosaeverso.net
  www.notivaga.com.br                        
www.cordasensivel.blogspot.com





As imagens são deste sábado entre um intervalo e outro no trabalho...

Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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